Brasileiros deportados sofrem violência durante voo dos EUA

Um grupo de 84 brasileiros chegou a Minas Gerais na noite do último sábado (25) em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB). A operação foi necessária após problemas técnicos em uma aeronave americana, que fez escala em Manaus. Entre os deportados estava Matheus Henrique, de 22 anos, natural de Rondônia, que descreveu a experiência como traumática, em contraste com o sonho de uma vida melhor nos Estados Unidos.
Reabastecimento e Tumulto em Manaus
O vigilante Jeferson Maia, também de Rondônia, relatou que as agressões começaram em solo manauara. A aeronave, que deveria aterrissar no Aeroporto de Confins na noite de sexta-feira (24), precisou fazer uma parada em Manaus para reabastecimento.
Durante a parada, problemas técnicos no sistema de ar-condicionado causaram tumulto entre os passageiros. Segundo Jeferson, alguns brasileiros fluentes em inglês solicitaram aos agentes americanos permissão para sair da aeronave. O pedido foi negado e, logo em seguida, começaram as agressões.
“Eu fiquei sentado até não aguentar mais. Quando pedi [para sair], um agente me enforcou”, contou Jeferson. “Era impossível manter a calma. Havia crianças chorando.” O vigilante também afirmou que estava sem se alimentar adequadamente há 40 horas e sem tomar banho há cinco dias.
No meio do caos, as escadas de emergência do avião foram acionadas, o que levou ao cancelamento do voo. Relatos indicam que os próprios brasileiros ativaram o mecanismo.
Relatos de Maus-Tratos Durante a Detenção
Luiz Fernando, natural de Minas Gerais, viveu por um ano e meio nos Estados Unidos antes de ser detido por 40 dias. Ele relatou que, durante o período de detenção, um compatriota chegou a desmaiar após receber um mata-leão de um agente americano.
“A gente se alimentou durante o voo, mas não muito”, disse Luiz. “Fiquei muito abalado com o tratamento que recebemos. Nunca vi algo assim.”
Outro brasileiro, Luiz Antônio, de 21 anos, natural de Teófilo Otoni (MG), relatou que os deportados eram tratados com descaso. “Não podíamos falar nada”, disse.
Outros passageiros também afirmaram que, quando agentes da Polícia Federal tentaram entrar no avião em Manaus, os americanos começaram a retirar as algemas dos brasileiros. “Foi a pior experiência da minha vida”, desabafou Aelinton Cândido, de 43 anos, de Divinópolis (MG).
Privações Durante a Detenção nos EUA
Além dos episódios no voo, brasileiros relataram dificuldades durante o período de detenção nos Estados Unidos.
“Até os cachorros do Brasil estavam comendo melhor que a gente lá”, disse Lucas Gabriel, de 23 anos, de Betim (MG). Ele contou que sua alimentação era limitada a pão, água e cereal, enquanto estava detido.
Lucas havia passado cinco anos nos Estados Unidos, trabalhando na construção civil, mas foi deportado após ser flagrado dirigindo sem carteira de motorista.
Outro caso é o de Carlos Vinícius, de 29 anos, natural de Vespasiano (MG). Ele tentou atravessar a fronteira com o México de forma ilegal, mas foi preso. “Fui para lá em busca de uma vida melhor, porque aqui no Brasil está muito difícil”, explicou. Carlos revelou que gastou cerca de 30 mil dólares na tentativa de entrar nos EUA e ficou detido por oito meses até sua deportação.
Posicionamento do Governo Brasileiro
O Ministério das Relações Exteriores classificou o tratamento dado aos brasileiros como “degradante” e informou que cobrará explicações do governo de Donald Trump. Desde que assumiu a presidência em 20 de janeiro, Trump intensificou ações contra imigrantes indocumentados, ampliando deportações e reforçando a segurança na fronteira com o México.
No sábado (25), o chanceler Mauro Vieira esteve em Manaus e se reuniu com o superintendente interino da Polícia Federal no Amazonas, Sávio Pinzón, e com o major-brigadeiro Ramiro Pinheiro, comandante do 7º Comando Aéreo Regional. O objetivo foi coletar informações detalhadas sobre os acontecimentos envolvendo o voo.
Os brasileiros deportados seguiram de Manaus para Belo Horizonte em uma aeronave da FAB, disponibilizada pelo governo brasileiro. Durante o trajeto, já estavam sem as algemas, após o Ministério da Justiça classificar o tratamento dos agentes americanos como um “flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros.”
Conclusão
O caso expõe a complexidade e os desafios enfrentados por brasileiros em busca de melhores condições de vida no exterior, além de levantar questionamentos sobre os direitos humanos no tratamento de imigrantes. A atuação do governo brasileiro, especialmente em relação ao diálogo com os Estados Unidos, será fundamental para evitar situações semelhantes no futuro.